sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Fantasma de poeta





A luz tênue dos meus olhos agora cega
Farpões de setas em meu peito adejam
Horroídas fúrias do pensamento levam
A Minha cândida alma a sofrer no tejo

Pasmado na angústia da belona vejo
Ingratas flores de néctar envenenados
O asperríssimo e terrífico tirano pejo
Reluz nos raios da lua embalsamado

Inundam meus olhos lágrimas ardosas
Mortíferas imagens me afadigam
O áureo licor anima a minha vida
Gigantéias teias em meu peito moram

Turbados na miséria meus olhos choram
Fitando o rosto maciento da morte
- Vem, ó morte desvanecer minha sorte,
Vem para os braços de quem te adora...!

Desbotada paixão, foi ela quem a ungiu
Do lirismo sarcástico de gentis amores
As tochas ditosas iluminam os pavores
Na cucurbitácea do amor que de te fugiu

Que amor ostentoso! Meu peito ferve,
Lá vai na falua a imunda alma dela
O Meu tartáreo tributo só me serve
Para ser uma sombra fantasma de poeta

Chega a noite eu permaneço dormindo
O lúgubre em etéreas visões vem vindo
Uni-me com as fúneras dores do mundo
No desditoso palor níveo do vagabundo

Terrível ânsia! No sonho fico sorrindo,
O alígero farpão da morte me enlaça
No ar vagueia a fumaça do meu charuto
Na densa cruel névoa do veneno da taça

Funestos sons aos meus ouvidos soam
Reclinada no berço dorme a virgem
Férreas prisões em meu peito tecem
Cânticos funéreos meus lábios entoam

Acorda poeta e não te oprima no fogo
Na sacrossanta essência que em ti tecem
Sérias dores gloriosas que desvanecem
Tua cândida alma e teu letífero ego

Uni os teus lábios com os do néscio
Sedenta boca do sepucro da miséria
Acorda poeta do teu Spleen solitário,
Da densa fumaça do gostoso tédio!

Envolva-se nos raios impuros que ecoam
Nos ímpios ais arquejantes do fogo
Corra atrás das notas que soam
Na ignóbil repugnância do teu aspetro

Fumega nos meus olhos o tédio da vida
Meu Deus! Tanto sol me queimam as vistas
Despertai, ó fantasma do sacrilego poeta
Das trevas infindas para a visão perdida!

Sacia tua foice nas carnes fedorentas
Arqueja, suspirando teu tributo maldito
Ó torpe miséravel, insaciável entranhas
Deixai ali a sombra vil repousar contigo!

Aniquila tua alma e as róseas flores
No teu imoto peito se agrilhoa e soa
A sulfúrea chama das afeias dores
Oh! Diante dos meus olhos a chaga voa!

Meu peito estala! Sorvo o veneno da taça
Acordo! Acordo desta vida, deste fadário
O mal dos malditos poeta me enlaça
Acordo! Acordo, abro minha porta e saio!

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