sábado, 27 de fevereiro de 2010

A dor ( em memória à minha mãe)


- Bom dia, dor! - Disse eu a minha alma. A verdade é que ela veio rápida, com suas garras afiadas e sem permissão entrou no meu olhar. Os meus olhos parece-me que começaram a criar uma dura amargura. Ela chegou de um modo tão silencioso que não me foi possível ouvi o ruído dos seus passos. Foi tão fria e insensata que eu não consegui saber o porquê que ela silenciosamente veio como uma ladrã, saqueou à minha casa e roubou o meu espírito...! - bom dia, dor...! Seja bem vinda...! Entra-te no meu coração e deixa transparecer no meu olhar à minha amargura e à minha tristeza. Faz-te a tua morada e permanece até o cair da última folha deste verão...! Abraça-me com os teus atrativos, isso porque começa a brotar em mim a chuva do teu inverno...! Vem, ó dor...! Sim, porque talvez até em ti posso buscar o meu consolo e despir a minha vergonha, à minha fantasia que é uma mentira...! Vem, isso porque eu sinto que em mim há um doce olhar que tanto te fascina. Toma-me e faz-me navegar neste teu leito absurdo e cheio de desvios erróneos...! Ah! Levarei como presente a ti as minhas lágrimas e o meu sofrimento, não quero compaixão de ti e nem a tua piedade, isso porque em ti não existe: és dor e dor será, portanto, não cabe a ti padecer junto comigo e com aquilo que sinto. Leva-me, ó dor...! Leva-me no dorso da tua imaginação e do teu mundo mesquinho, cheio de incertezas futuras e sem o doce aroma de um suspiro...! Suspende-me diante dos teus olhos e ria do que eu sinto...! Ria-te, ó dor...! Por que em ti não há compaixão e tu não se sujeita a um riso de alegria de uma vida...! Mata aquilo que por muito tempo permaneceu dentro de mim...! Pisoteia-me com o teu chicote áspero e frio...! Faça com que o brilho do meu olhar possa se perder, não permitindo que eu possa ver dentro do meu refúgio o socorro da minha busca...! Ah! Começa a cair a primeira neve deste inverno...! Como são brancas e suaves...! Adormeço diante da minha incerteza e dos meus sonhos...! Suspiros...! refúgios de um ser que sente e ainda vive...! A terra e o céu parecem que não se comovem com a nódoa que manchou a minha alma...! Nem céu e nem terra se compadecem com o meu pranto, mas parece-me que é tempo de chorar, ri e sonhar...! Há ainda uma ténue busca, mesmo que meus olhos possam denotar apenas uma réstia de amargura...! Que deidade fizestes tu comigo, ó grilhão soberbo de amargura...! Arrancastes-me a primícia do meu jardim, e nem deixastes que ela pudesse dá-me pelo menos um leve "adeus". Como podes fazer esta destruição dentro de mim, sabendo que sou fraco e não tenho ânimo e nem coragem para te enfrentar...! Como podes roubar do meu campo a essência que encantava as minhas narinas e o meu ser...! Como pode na minha fragilidade e na minha inocência destruir a árvore que me servia de sombra...! Como podes impedir à minha caminhada rumo à minha montanha, pois era de lá onde vinha a minha segurança e minha força futura...! Roubaste-me o meu último suspiro e agoraas minhas lágrimas brotam ininterruptamente das minhas pálpebras...! Levaste o cantar doce que saboreava a criança e agora, ela não pode mais ouvir aqueles suaves acordes que cantava a cotovia na sua campa...! Ah! O que queres tu mais comigo? Sim, talvez tocar-me mais forte porque assim tu ó dor, sentirá em mim o prenúncio de uma morte...! E tu matastes-me com a tua insensibilidade e a tua falta de misericórdia...! Queimou-me com a força do teu fogo e dentro de mim já não há a gotejante cachoeira que tanto fluía na minha vida...! Tiraste de mim a rosa onde eu, borboletas e as abelhas sempre fazíamos festa ao redor do néctar...! Já não posso visitar mais à minha bela campa onde habitava o meu jardim...! Perdi-me no labirinto que criastes ao meu redor e tu não se compadeceu de mim e nem das minhas lágrimas...! Sim, não há em ti a graça, o ímpeto verdadeiro de uma alma agraciada com sentimentos humanos...! Isolaste-me e tapaste a minha fonte, onde sempre ia eu beber a água cristalina...! Elevou aos meus olhos a amargura e tristeza, e tu não se compadeceu de mim...! Que faço, ó dor! Ficarei a te fitar, buscando na minha consciência a causa de grande desumanidade por tua parte...! Que mísero é o teu olhar e teu jeito! Que maldade tamanha habita em ti? E como te contenta em fazer mal absoluto a uma vida que respira...! Qual é a tua paga? Qual é a tua alegria? Sim, talvez seja porque na dor te sinta colossal e sábia...! Que sabedoria pode existir na maldade e no perder de uma vida? Tu o sabe de mim...! Sabe o quanto canto olhando o reflexo do sentimento humano...! Tens inveja da minha inocência e do meu pensar...! Queres destruir-me porque assim te fortalece e te enriqueces...! Devasta-me com a tua constância força bruta não permitindo que eu possa ainda respirar o ar do armistício do meu sorriso! Ah! O que mais poderá tu fazer diante de mim? Poderá tu roubar-me também a vida? Isso tu não queres! Sim, porque queres ver à minha carne queimar sobre o teu altar de sacrifício! Pega-me então, e,com o teu cutelo, oferece-me em sacrifício a tua loucura e ao teu prazer! Leva-me ao teu monte e decepa os meus órgãos e as minhas carnes oferece aos abutres do teu criatório! Não te apiede porque nos meus lábios sempre fluirá risos de felicidades e isso te irritará! Sim, comigo permane agora e por um bom tempo eu sei que me seguirá, mas farei de conta que não a vejo mesmo sentindo nos meus ombros o pesar da tua cruz...!



A dor






É tu que nesta insensibilidade sem nome

Vem me olhar fretando os meus passos

É tu que sobre o véu negro dos teus laços

Quer envolver-me no veneno letal infame






É tu que me sustenta a um sórdido estágio

A uma loucura imensa perdida sem rastro

Tu que agora é minha estrela e meu astro

Seguirei na vida com mais esse presságio






É tu o princípio da causa mórbida que passo

A febre ardente que no meu seio enlaça

E neste abismo profundo eu não transpasso






Ingrata! Vil! Infame! Oh! é grande a tua dor!

Perdido estou pois sempre me caça,

Mas posso me salvar pela inocência do amor!

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