quarta-feira, 13 de outubro de 2010

DESEJO E ESPERA


DESEJO E ESPERA

Batem à porta! Abri-a! Entre amor tão diferente!
Somente em mim penetra a tua ardência sem fim!
Contudo eu em ti vivo e tu não vives mais em mim!
Usufrui-te e não permites que beba a tua essência!


Lança sobre o meu seio a espera e quando chega!
Só uma parte vive, permanece no seu puro deleito!
Arranca-me suspiros do meu atordoado doce peito!
Privando a delícia dos suaves meus primeiros beijos!






     Oh! Como podes um bom coração, semelhante à imagem do seu criador, assegurar-lhe dentro de si mesmo, ao seu espírito indisposto que se convalesce de uma longa e grave enfermidade, sentindo-se a cada dia inquietações e perturbações, causando assim, calafrios e indisposição a sua existência? Como pode o mesmo coração emergir, recolocar de novo as suas narinas na superfície das águas, tentando retirar o seu oxigênio do ar, se, o mesmo mar que antes fora tão calmo e sereno, agora lhe aplaca com tempestade, fazendo com que o líquido que pulsa, subsuma-se e dele é retirado o seu sopro de vida? Como podes a alma entrar, sendo ela um reduzido e pequenininho astro, na sombra de outro, em principio de eclipse, estando ela sobreposta ao outro, Ora, não haverá o seu descanso, porque a sombra será tão minúscula que não trará refrigero ao seu suor! Há um espetáculo prolongado onde procuro alcançá-lo com a minha língua, entretanto, não encontro o remédio universal para frear a minha angústia e tristeza que é o amor simples, mas tão complexo em sua forma...!


    É uma inconstância! É uma agitação perpétua que nasce e resplandece na face transfigurada do meu ser humano que ama; onde lhe recai aos olhos, uma agitação estéril, não encontrando uma saída, porque, ele não é capaz de mandar e também obedecer a sua paixão, entregando-se as indiferenças de uma nova procura, e ele, fica paralisado entre as ruínas dos seus desejos!

     Assim espera o meu coração que ama! Assim sonha também ele, tentando enraizar, confessar a si mesmo as razões que o prende na sua paixão, asfixiando a esperança que ainda podia ser liberta, tentando assim um novo voo, entretanto, a sua alma indecisa malogra na desolação da sua libertação, prologando assim, a sua ansiedade que, com os seus olhos fatigados pelo o ruge aspecto, procura a saída da árida terra que morre, mas tenta sobreviver-se, arrancando para isso, uma vida que sirva de excremento para a sua produção...!


     Assim estar meu coração que ama, emitindo clamores furiosos! Não consegue satisfazer e acessar os objetivos dos seus desejos e uma angústia se expande por todo o meu viver! Sou afetado por uma melancolia, onde com o meu olhar auspicioso observo a geração humana, transcendendo-se em ignóbil e vã crença se perde! O meu coração estar sendo privado e inerente estar à beleza do amor diante de mim, portanto, deixando-me já vazio a frente de uma espera que nunca chega! Eu estou livre e não pertenço a quem quer que seja, receio que seja a impossibilidade da minha sina de possuir desejos tão ardentes e eloquentes! Parece-me que bebo e beberei até a última gota da cicuta que o destino me reserva! A minha fantasia é assídua e se ocupa em chamar de volta as emoções e sensações, tornando-se agora insuportável o meu presente e certamente o meu futuro! As inquietações, os pressentimentos, as lágrimas e os apertos do coração me levam a me meter dentro de mim mesmo, levando assim, o fechamento e a morte angustiante dos meus desejos! Perambulando vagueio; onde céu, terra e todo o seu poder estão envoltos a mim, apenas para causar ainda mais abalo, gerando assim um mostro que me segue e tenta desbaratar a última gota do orvalho límpido e sedoso que emite luz, portanto, não estou cego...! 


Eu bebo e degusto com a minha língua o teu vinho e a tua essência me será como arma voluptuosa, onde a morte dos meus sentimentos será exposta, levados ao mercado da miséria para servir de punição a quem tanto amou! Por que, ó vida! Os teus vínculos para comigo são vulneráveis e os teus desejos são vacilantes e inconstantes!

Oh...! Profundezas das razões! Que forma tem o amor que se aloja no coração! Incorpórea será...? Ou as suas partículas são mortas e não retém nelas o seu brilho e a sua suavidade? Corpóreo é a minha forma e até os meus gritos são visíveis aos olhos! Oh! Por que se torna pesado a carga que fora amputado ao meu espírito que se ajoelha, porque, insuportável é o seu peso, tornando-me um pedaço de homem, onde os impulsos se tornam insolentes, escarnecedor e aniquilador da sede da minha vontade de amar! Onde agora eu encontrarei a vida? Estou preparado para amar e também morrer, porque, quando se quer amar deve também se preparar para a morte! Ah! Como tenho a vontade de flutuar neste oceano de perfume que me vem as narinas! Que belo santuário celestial produz o meu coração quando, extasiado, se entrega a este elevado paraíso monumental! Será que me torno um insano a procura do sabor que aqui não mais floresce e nem dá os seus frutos? Deparo-me com os estreitos limites que são confiscados, ainda quando paro por um instante, tentando esperar aquilo que deseja o coração e anseia a boa alma! Ah! Coloca pelo menos, no sonho que se levantará, quando eu repousar meu corpo cansado no meu leito, a esperança de que um dia eu possa pelo menos sentir o gosto propusor e elevado nos meus lábios que secos e mórbidos, permanecem em constante delírios e anseios...! Deixe que o céu desça sobre
mim, arrebatando à minha alma a um sonho que permanece exposto,e, na sua inocência, acredita ainda que é possível voar e alcançar limites
que ultrapassam o conhecimento do entendimento
humano! Assim deseja o meu coração e assim também espera a vontade de amar!

Um comentário:

  1. Oi. Não poderia deixar de postar o meu comentário. Da intensidade com que expressa as fortes emoções humanas, da que faz sorrir e chorar...Suas mensagens inquietam, de alguma forma...Isso é bom. Parabéns pelo blog!Está muito bom!
    Tchau.
    Neuzi

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