segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

DOIS SONETOS COM EMENDAS E UM POEMA DESESPERADO



DOIS SONETOS
(COM EMENDAS)
E UM
POEMA DESESPERADO.

Sinto frio, a terra oscila e eu caio.
Vejo o céu nu oculto nas trapaças.
A noite tem marcas dos fúnebres passos.
Cravados no abandono da minha carne.

O vento úmido mistura se com o sal.
As lágrimas que dos olhos caem,
Tento saber o que se passa...
Entre o céu e a terra que se esvaem.

Nada sei... E se sei... Confundo-me!
Com a semelhante imagem criada.
Igual a minha... Logo o mundo cai.

Cai, sim! – Ergo-me levando a graça.
A dor que a mim fora amputada.
Amanhã o universo por mim passa.

POR QUE...
Como se tem o dia também se tem a noite.
Entre a vida, tem-se também a morte.
Viver é preciso se ter consorte
Mil bússolas
 Para se chegar ao norte.
E ainda ter sorte.
E “eu” ainda...
Ergo os olhos percebo uma miragem
Aspecto horrível que forma o sonho
Bebo do cálice e a sobra eu ponho
Na comida que me leva tua viagem

Envenenarei tua alma que é maldita
Entorpecer a ignorância da tua calma
Farei da bendita tua alma amada
O instrumento para chibatar tua carne

Pérfido! Ingrata foi tua vida vazia!
Aos outros nada fizestes, só roubastes!
Não salvou quem naufragou no rio!

E teus olhos incandescentes ardem
Essa vida vazia que se acha
Fecunda pelas dores dos teus passos

 
"O ESTRANHO"
 se insinua no resguardo do seu 
medo.

Lança
o fulgor de uma luz que lhe cega os 
olhos.

Contornos 
irregulares das pupilas que queimam  os 
abrolhos.

Açoitado e a murchar
 na dor o coração aflito 
delira.

O cansaço oculto vem à tona, e amordaça-me a mesquinhez de um entre errante, a habitar o seu remorso alarmante, e nas nódoas de pecados confessados, eis que ele se torna mais anjo, entre caricias de beijos profanos, voraz e a sugar os prazeres das suas insolências de serpentes, a víbora eleita e asquerosa esposa,  distinções rígidas no habitáculo da vida humana, e hiante a falsa profetisa se levanta, e dentro de um crânio do engano,  e sob o olhar de um anjo que tem fome, esfomeados ouvidos a exortarem os pedaços de desenganos, e bem profanos as velhas bacantes o convida a beber dos seus corantes, e temerário passo esquelético, e da sua refeição não como, mas sinto tanta fome,  e a cúpula apocalíptica me chama, e pálido no sol ofuscante do seu império me escondo, e afronta-me o ornar vulgar do seu diadema no carnaval do velho dilema:

 "Como ou não como?”


Mas sinto tanta fome!

E fervilha 
o crânio indistinto, e que respira o ar que borda o veneno das hienas, escorpiões ululantes, míseros desenhos que estupra a paixão, iníquo detrito que da língua emana, e chama como se ela fosse santa, emoção que se agarra em um caixão de espanto, e se planta falsidade no patíbulo hipócrita de uma boca que aclama a dizer que sempre sente fome.

-Então coma demônio!



Carlos Alberto
albertoesolrac
silêncioelágrimas


Brasília, 16/01/2017

21:11